Queda para a Série B afeta mais a autoestima do que os cofres das equipes
Carolina Canossa, do R7
Djalma Vassão/Gazeta Press
Palmeiras, de Valdivia, está afundado na zona de rebaixamento com 20 pontos
Em 2012, o Verdão volta a viver assombrado pelo fantasma do rebaixamento. A equipe ocupa a 19ª colocação na tabela de classificação, com apenas 20 pontos conquistados em 25 jogos. A distância para o Flamengo, primeiro time fora da zona do rebaixamento é de oito pontos.
Mas a queda para a segunda divisão não significa automaticamente perdas financeiras para os times grandes. Para o consultor de marketing e gestão esportiva Amir Somoggi, o torcedor é o mais afetado em casos de rebaixamento.
— A Série B normalmente é muito mais traumática para o torcedor do que economicamente. O time tem uma redução nos contratos de mídia e TV, mas a arrecadação cresce. A Série B não é um "inferno" como dizem. É ruim para os negócios na medida em que o time perde a autoestima.
Somoggi diz que as equipes precisam apostar na bilheteria para manter o caixa em ordem sem precisar cortar custos durante a disputa de uma segunda divisão. Por isso, o consultor afirma que os torcedores são a esperança dos clubes grandes na Série B.
— É o torcedor que pode salvar o time nessa hora. Os exemplos que nós tivemos no Brasil e no mundo de equipes que caíram mostram que eles dependeram muito do torcedor nos estádios, com renda de bilheteria, ações do clube.
Cair para a Série B também pode representar uma espécie de ressurgimento para um clube grande. O exemplo mais lembrado é o do Corinthians, rebaixado em 2007, que dois anos depois da queda se sagrou campeão da Copa do Brasil e hoje é o atual campeão da Copa Libertadores.
O diretor de futebol do clube na época, Antônio Carlos Zago, lembra que o Corinthians tinha problemas sérios de estrutura quando caiu para a segunda divisão.
— Praticamente a única saída foi fazer uma renovação para profissionalizar o departamento de futebol. A estrutura não era de time grande, era bem pior que as de Palmeiras e São Paulo, as máquinas de musculação eram do tempo que eu jogava, em 1997.
Zago, que trabalhou como técnico do Palmeiras em 2010, disse que espera que o ressurgimento do Corinthians após o rebaixamento sirva como exemplo em caso de nova queda do Palmeiras para a Série B.
— Espero que o time não caia, que a torcida fique do lado mesmo sem ter o Palestra Itália, que os jogadores mais experientes do grupo, como o Valdivia, possam liderar essa recuperação. Mas se cair, espero que haja essa renovação que aconteceu no Corinthians.
O diretor de futebol do Fluminense, Rodrigo Caetano, tem no currículo a experiência de ter assumido dois clubes grandes que haviam acabado de ser rebaixados para a segunda divisão. Caetano comandou o Grêmio, em 2005, e o Vasco, em 2009. O dirigente diz que as equipes mais tradicionais do futebol brasileiro poderiam aprender a lição antes sem que a humilhação do rebaixamento fosse necessária.
— Eu não compactuo com essa ideia, acho que você não precisa perder, não precisa do descenso para aprender. Você pode corrigir o rumo no decorrer de uma competição.
Já o consultor em negócios esportivos José Carlos Brunoro, que marcou época no Palmeiras ao comandar o futebol na era Parmalat, época de muitos títulos importantes nos anos 1990 para o Verdão, reforça a opinião de Caetano.
— Eu nunca gosto de benefício com derrota. Mas eu acho que o próprio Palmeiras já passou por isso, as outras equipes também, todos souberam sair dessa situação, se obrigaram a ter uma organização melhor. Então eu acho que pode sim ter um benefício, mas espero que não aconteça.
Se for rebaixado, o Palmeiras vai enfrentar uma situação inédita entre os grandes que caíram: nenhum deles tinha vaga garantida na Copa Libertadores do ano seguinte.
Para Zago, a disputa da competição continental sai das prioridades da diretoria palmeirense por causa do risco de rebaixamento. O ex-treinador do Verdão diz que o planejamento para a Libertadores será afetado pela crise vivida pelo Palmeiras no Brasileirão.
— Você não pode fazer um planejamento antecipado, porque a preocupação maior é evitar o descenso. A Libertadores passa para o segundo plano. Se o time tivesse já a garantia de que ficaria na Série A, poderia se reforçar, pensar em jogadores com perfil de Libertadores.
Sobre a possibilidade de o Palmeiras disputar a Série B no mesmo ano em que retorna à Libertadores, Somoggi diz que esse cenário é completamente inimaginável e não faz previsões sobre como o clube vai se comportar se isso acontecer.
— É uma coisa assustadora imaginar esse cenário. É esdrúxulo pensar que um time que conseguiu vaga na Libertadores vai jogar a Série B. Mas eu acredito que o Palmeiras vai se salvar, é um clube muito grande.
Arena Palestra Itália
Outro fator que assusta os palmeirenses é jogar a Série B exatamente no ano em que o clube vai inaugurar seu novo estádio, a Arena Palestra Itália. Depois de três anos, o Palmeiras vai voltar a ter uma casa.
O período fora do Parque Antárctica é apontado por Zago como um dos fatores que agravam a crise do Verdão.
— O time acabou perdendo identidade sem o Palestra Itália. Sem uma casa, as coisas ficam mais difíceis. Lembro que quando fui treinador do Palmeiras os jogos sempre tinham 15, 20, 25 mil pessoas no estádio. Isso faz falta.
Oficialmente, a WTorre, empresa responsável pela construção da Arena, não trabalha com a hipótese de rebaixamento. O diretor de negócios Rogério Dezembro foge das perguntas relacionadas ao tema Série B e diz apenas que o trabalho no estádio continua normalmente.
— O futebol é imponderável, não dá para ficar falando se isso ou aquilo acontecer. [...] O cronograma será mantido, independente do que acontecer.
O conselheiro palmeirense Antônio Carlos Corcione diz que a empresa está, sim, com medo das possíveis consequências da queda. A WTorre ainda não vendeu os naming rights da Arena Palestra Itália.
— Os parceiros lá [da WTorre] estão meio preocupados com isso [a queda para a Série B].
Nenhum comentário:
Postar um comentário